> Trekking and Fly ES 2019
Foi dada a Largada!
Começou a aventura mais épica do Parapente no Brasil. Atravessar um estado inteiro, de norte a sul, usando nada mais do que as pernas e um parapente. Sair da divisa norte do ES e ir caminhando rumo ao sul buscando, sempre que possível, um local para voo que permita evoluir o máximo possível também pelos céus. Nenhuma outra forma de locomoção é permitida, exceto deslocamentos pontuais para apoio ou urgências, voltando ao ponto exato da origem do deslocamento para a continuidade válida da travessia. Nesse TEF-ES 2019 não há apoio de veículo por terra, o que já era uma mega aventura esse ano será ainda mais desafiador. Curtam e compartilhem!!!
Dia 1 - 18.03.2019
Peguei um ônibus de Vitória-ES para Nanuque-MG ontem, 17/03/2019, às 21h30 para já chegar à divisa por volta das 4h da manhã e a primeira comédia já aconteceu. Eu, na certeza de que o ônibus passaria por Montanha-ES, pedi ao motorista para me deixar na divisa "dos estados", próximo a Nanuque (que pra mim seria obviamente a divisa ES x MG). O maledeto do busão, Vitória x Nanuque, na verdade, passa pelo sul da Bahia amigossss.... kkkkkkk. Então o motorista passou a divisa ES x BA e depois a BA x MG. Sorte que ele lembrou que era pra me deixar na mais próxima de Nanuque e me deixou na fronteira BA x MG, mas a 22km de Nanuque e a 32km da divisa correta, MG x ES, onde o TEF-ES 2019 iria começar.
Ao descer do ônibus eu não reconheci o local, mas imaginei que pudesse ter que andar um pouco até o ponto exato. Saí às 4h15 e perdi 30min de caminhada até certificar que estava no lugar errado. Bem, mais 30min de caminhada de volta ao vilarejo onde desci e outra espera até as 7h20 para pegar uma condução para Nanuque, onde peguei um taxi para a divisa correta, MG x ES.
Ao descer do ônibus eu não reconheci o local, mas imaginei que pudesse ter que andar um pouco até o ponto exato. Saí às 4h15 e perdi 30min de caminhada até certificar que estava no lugar errado. Bem, mais 30min de caminhada de volta ao vilarejo onde desci e outra espera até as 7h20 para pegar uma condução para Nanuque, onde peguei um taxi para a divisa correta, MG x ES.
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MARCO ZERO - DIVISA MG X ES |






A condição estava fantástica, eu ainda decolaria até umas 15h, com tempo de sobra para voar até Itamira. O dia estava clássico e o vento perfeito para a 1a perna. Infelizmente o dia foi comprometido e tive que replanejar logo de cara uma alternativa.


Caminhei até a porteira de entrada para a casa da sede ao lado do acesso à Pedra do Soares, armando a barraca às 21h30 no pasto da fazenda e finalizando assim o primeiro dia do TEF-ES 2019. Nem um pouco perto do planejado, mas vivendo a aventura.
Dia 2 - 19.03.2019

Acordei às 5h40 e umas 6h30 estava com tudo pronto e a barraca já guardada. Ao me dirigir ao acesso para a Pedra do Soares, passando pela porteira da sede, encontrei o dono da fazenda, o super gentil e atencioso sr Tião que estava indo ao curral tirar leite. Ele parou tudo que estava fazendo para me dar atenção e insistiu para que eu tomasse café com ele e sua esposa.


Como a serra é basicamente toda de pedra, a maior parte da subida é feita por caminho sobre pedra. Boa parte aberta e um pequeno trecho em meio a uma mata e então se chega à parte superior onde se finaliza a subida e chega a uma pequena capelinha que tem no topo.
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CAPELINHA DA PEDRA DO SOARES |
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PEDRA DO SOARES - FACE LESTE |
Vale destacar que as áreas de decolagem são lajes de pedra lisa. A face oeste é mais restrita e a face leste oferece mais opções e escape. O vento na região tende a ser nordeste, então acho que o lugar promete e voltarei em breve para explorar melhor.
Esperei bastante na serra. Ia para a face leste, sentia a pressão, observava a dinãmica... ia para a face oeste e fazia a mesma coisa... e nada claro ainda. A única certeza era a de que a condição que estava prevista para virar e ficar péssima e de quadrante sudoeste parecia que iria se confirmar justo já no segundo dia de um projeto tão dependente da meteorologia. Entrou um círrus bem denso, que era bem ralo no dia anterior (observem as fotos do 1o dia) e percebi que as coisas podiam ficar complicadas para avanços por céu.
Por volta das 12h me preparei e decidi de decolaria na face leste. Na 1a tentativa a vela foi totalmente lateral e logo na sequência entrou uma lufada frontal na qual decolei.
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ÁREA DE DECOLAGEM - FACE LESTE |

Foi duro jogar a toalha e decidir encarar os 12km de caminhada até Itamira no horário pico do sol.

Confesso que senti raiva. Eu treino, eu tenho preparo, sou bruto demais para qualquer coisa e agora estava ali parecendo um animal debilitado e acuado. Essa raiva me sustentou e me ajudou a concluir a missão do dia, apesar de gastar o dobro do tempo normal. Num certo vilarejo com algumas poucas casas dei a sorte de encontrar uma com uma ducha na área externa que estava sem ninguém. Pude descansar, me refrescar e renovar as energias.
O momento em que avistei Itamira foi quase que como receber uma dose de anestésico na veia. O corpo parou de doer, as pernas revigoraram, os pés se firmaram e o passo ficou determinado novamente. Me reanimei e cheguei à cidade já com o plano de buscar ao máximo formas de me recuperar totalmente. Itamira era o ponto no projeto com a segunda área de decolagem, então tudo que eu precisava era de um bom descanso e uma boa condição meteorológica no dia seguinte.

Eu já havia decidido que precisava me alimentar bem e tratar os pés, que começavam a demonstrar os primeiros sinais de desgaste, para o próximo dia. Ainda que isso envolvesse algum deslocamento, eu precisava organizar a logística de ida e volta para a cidade mais próxima com alguma estrutura. Consegui pegar uma carona para Ponto Belo (18km) e fui recuperar um pouco o desgaste imprevisto dos dois primeiros dias do TEF-ES 2019.
Em Ponto Belo hospedei numa pensão meia boca e acabei tendo que comer lanche (hamburguer). De qualquer forma uma farmácia aberta lá me foi de grande valia e compensou tudo.Agora era descansar e preparar para o próximo dia.
Dia 3 - 20.03.2019

Apesar de tanto preparo mental e físico, toda aventura que envolve longas caminhadas tem um ponto crítico que pode vitimar dos amadores aos mais preparados atletas do mundo: os pés.
Eu já sabia dos cuidados a tomar, já sabia os pontos a atentar, tinha levado meias adequadas e remédio para aliviar e acelerar o processo de recuperação diário dos pés. NADA DISSO deu certo e a dura realidade da prática me bateu com força e me deixou já com os pés bem detonados para o início do 3o dia do TEF-ES 2019.

A pensão na qual dormi era horrível, mofada, péssimo atendimento (sem atendimento)... mas melhor que uma barraca num pasto qualquer. Acordei cedo, tomei um café basicão e fui a um banco automático para recarregar dinheiro em espécie, pois percebi que poderia ser mais necessário do que eu estava imaginando. Depois fui para o ponto de ônibus e peguei um ônibus de volta a Itamira.
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DISPOSIÇÃO - O INGREDIENTE BÁSICO PARA QUALQUER DESAFIO |
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VISTA PARCIAL DE ITAMIRA |




Voltei caminhando para a cidade e dessa vez consegui almoçar numa casa que vende refeiçoes para algumas empresas. Fiz algumas amizades, gastei um bom tempo numa lan house, comprei alguns medicamentos para tomar e para tratar os pés, lanchei e arrumei uma casa para passar a noite.
Ao final do dia o tempo fechou bastante na região toda e no meio da noite caiu uma chuva forte por mais de 3h. De qualquer forma eu tive uma ótima noite de sono.
Dia 4 - 21.03.2019


Apesar de dormir bem, o quarto dia me encontrou com a moral muito baixa. No TEF-ES 2015, passando por outra rota, eu havia chegado a Ecoporanga, cobrindo 100km, no segundo dia. Agora ainda estava no 55km, começando o quarto dia. Era muito atraso para administrar mentalmente. Sai da casa do novo amigo, passei numa lanchonete, comi muito bem e ganhei um belo casal de novos amigos. Sai sem pressa, o dia estava bem nublado e a temperatura bem agradável para o trekking.

Sra Almerinda e Sr Nicanor, muito obrigado pelo alimento, mas muito mais pela recarga de energia espiritual que eu estava precisando. São estas as maiores conquistas de um projeto como esse. São prêmios únicos e exclusivos.


Mais uma vez foi um dia longo de caminhada e o sofrimento foi bruto com os pés. Cheguei a Joassuba já à noite e sob uma leve chuva. Parei numa sorveteria para tomar água gelada e consumir um pouco de energia na forma de açai e coca-cola. Nessa sorveteria novamente fui agraciado pela solidariedade das pessoas e consegui uma casa para passar a noite, Joassuba também não tem nenhum pensão, nem hospedaria e muito menos hotel. Fiz mais um deslocamento, dessa vez do vilarejo de Joassuba até a propriedade da família que iria me abrigar para a noite.

Na casa que passei a noite pude dar uma bela higienizada nos machucados, passar medicamentos e deixar os pés ventilados durante a noite sem riscos de alguma infecção.
Se você acha que estava feio de olhar, imagine a dor de portar esses belos pés detonados.
Ao final desse quarto dia já estava muito claro para mim que eu teria que desenvolver uma forma de não parar de andar e ainda assim conseguir uma abordagem regenerativa nos ciclos dia e noite. Era isso ou eu não conseguiria terminar o projeto de jeito nenhum. Não há alternativas para lesões nas pernas ou nós pés em projetos como esse.
Isso sempre tem que estar claro na cabeça do atleta aventureiro, cuidar de seus principais meios de locomoção.
Dia 5 - 22.03.2019
Acordei bem demais, um garotinho muito gentil que me cedeu seu quarto, e o café da manhã foi muito agradável com uma família simples e pacata do vilarejo de Joassuba. O pessoal planta café e produz cachaça numa propriedade familiar.


Curtam ai algumas fotos desse dia sofrido e que me levou ao meu limite físico pela primeira vez na vida. O pior é que não fui levado ao limite do condicionamento físico e sim ao limite da administração da dor e do sofrimento.


Depois de mais 2 horas de caminhada muito lento, abaixo da velocidade mínima que eu havia estabelecido como produtiva, eu não aguentava mais e não fazia mais sentido nenhum continuar detonando os pés. O dia estava péssimo e a previsão climática ainda apontava mais dias ruins pela frente. Era parar e acampar ou fazer o deslocamento. Parei, pensei e decidi que para descansar e cuidar dos pés era necessário muito mais que um acampamento. Precisava de um descanso com mais recursos e também sabia que não aguentaria caminhar mais um dia inteiro.
A decisão era parar agora, fazer o deslocamento para Vila Pavão e fazer um dia inteiro de descanso sem qualquer caminhada. Seguindo a previsão climática eu decidiria quando completar a perna do ponto de origem do deslocamento para a real chegada a Vila Pavão e então fazer a próxima perna em voo.
Dia 6 - 23.03.2019
Dia totalmente off para recuperação dos pés e também aguardar a condição climática demonstrar alguma melhora na rota.
Dia 7 - 24.03.2019
Eu estava em Vila Pavão, mas na verdade não estava. Todo deslocamento deve ser encerrado no seu ponto de início, então eu na verdade, dentro do projeto, estava a aproximadamente 13km de Vila Pavão. Após um dia inteiro de descanso, duas boas noites de sono e com alimentação regular eu me sentia bem e decidi pegar a parte da tarde desse sétimo dia para fazer a perna final que faltava até Vila Pavão. Isso se casava também com a previsão climática, que apontava para o próximo dia como muito bom para o voo de distância.

Peguei um taxi na cidade e voltei ao ponto de origem do deslocamento para reiniciar o projeto. O dia estava com temperatura amena, ainda bem nublado, e programei a parte da tarde para a tarefa.



Bom, fiz o segundo preguinho de todo o projeto... mas assim como o primeiro, não ajudou em nada na evolução do percurso. O jeito foi refazer a mochila, botar nas costas e seguir para o destino.
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VILA PAVÃO NO VISUAL |
Oitavo dia.. 7 dias já concluídos e eu havia evoluído apenas pouco mais de 130km nessa edição do TEF-ES. Quando olhamos pela tela de um computador ou celular toda essa história, parece muito pouco, quando estamos lá vivendo cada segundo envolvido no projeto sabemos que cada metro custa muito e deve ser respeitado. Eu me sentia péssimo, pois no primeiro TEF-ES eu tinha avançado 100km em dois dias de caminhada, mas era preciso jogar o jogo mental com sabedoria para seguir em frente.

Melhor do que palavras, acompanhem esse dia de aventura pelas imagens abaixo, acho que elas dão uma amostra melhor e mais animada de como foi esse oitavo dia.
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INDO PARA A MONTANHA |
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MONTANHA DE VILA PAVÃO - DE ONDE DECOLEI |
O acesso ao ponto de decolagem só é possível por single tracks e é um caminho de média dificuldade. Achei muito bacana, pois estava já cansado de estradas de chão.
No estágio final da subida tem até uma pequena "via ferrata" para vencer um lance de laje com maior inclinação. Bem legal essa subida.

Alguns poucos pilotos na região eventualmente decolam dessa montanha, mas decolam de um pasto um pouco à frente de onde optei por decolar. Eles usam uma área uns 300m mais à frente mas uns 30m mais baixo e com uma saída mais duvidosa devido ao pasto e vegetação. O local é mais fácil, mas essa laje de onde optei por decolar, apesar de mais técnica, estava bem segura com o ventinho do momento.
Nessa foto do início da decolagem, observem como o céu estava promissor. Como não decolar confiante, concentrado e cheio de energia positiva para aplicar ao máximo as técnicas de XC para minimizar as chances de caminhar nesse dia?! Era decolar e botar para cima.
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DECOLAGEM ÓTIMA COM VENTO, SEM PERDÃO PARA VENTO FRACO |
Como se pode ver nessa foto, a deriva estava para trás da rampa e eu deveria voar para a direita da rampa. Não estava fácil. Demorei a conseguir ganhar, mas fui rastreando e explorando até conseguir sair numa boa. Depois foi hora de começar a negociar com as derivas para evitar perder terreno e ficar no meio do caminho.
Fiquei baixo nesse momento mas, lendo o relevo e o vento, sabia que não dava para pousar. O lance é que tive que lamber algumas pedras e subir nuns pequenos rotores, mas tudo me parecia valer a pena para evitar qualquer caminhada nesse dia.
Mais uma vez fiquei baixo no voo e, como estávamos saindo de 4 dias de condição ruim, sabia que não podia perder tempo pois o dia térmico tinha tudo para acabar cedo. Eu já estava achando que seria possível ter que caminhar ao me ver baixo e num buraco azul quando, mais uma vez, acreditar na técnica e arriscar com o conhecimento acabou fazendo toda a diferença. Eu só precisava vencer aquela pequena cordilheira à frente para já pousar no vilarejo alvo, Vargem Alegre.
É, mas a paciência e a maximização me levaram a uma boa altitude e fui usando as melhores linhas possíveis para garantir que pousaria direto na rampa de onde partiria no dia seguinte. Na foto abaixo você percebe uma pequena cachoeira à esquerda da sobra na montanha à frente. A decolagem de Vargem Alegre fica naquele topo verdinho e limpo à esquerda da cachoeira.
Fazendo a tirada final para a rampa de Vargem Alegre, avaliei bem a condição à frente para ver se compensava tentar já pular para o próximo objetivo da expedição, Pancas. No TEF-ES anterior eu havia completado a perna Vargem Alegre para Pancas em voo e me sentia confiante para seguir a rota. Mas infelizmente as chances de ficar no meio do caminho me pareciam maiores devido à janela térmica esperada para o dia. Resolvi não arriscar e ter que acampar em algum lugar no meio do caminho e ainda fazer uma longa caminhada até Pancas.
Na foto abaixo vocês podem observar pelo meu pouso e pela biruta (na arvorezinha à frente, à esquerda) que o vento ainda estava fora do que eu precisava para uma boa evolução na rota (o vento estava E/SE e eu precisava de vento NE). Fiz a rota de Vila Pavão até o objetivo totalmente no vento través. Apesar de toda a minha alegria, já me preocupava se conseguiria decolar no dia seguinte, pois a rampa fica (olhando essa foto) nas minhas costas e opera tradicionalmente com ventos de N a E.
A imagem abaixo não é boa o bastante para externar o meu sentimento de conquista. Eu estava devastado por ter meus pés detonados precocemente, eu estava devastado por ter gasto 8 dias para chegar a um lugar onde cheguei no quinto dia do primeiro TEF-ES. Mas, a alegria da conquista em um dia após tantos imprevistos é algo inexplicável em palavras. Eu precisava e merecia esse belo dia de voo.
Para melhorar esse dia e essa conquista, ao encontrar o dono da fazenda atrás da rampa, o Marcelo, fiquei sabendo que a casa de peão que tem em frente ao acesso à rampa estava novamente ocupada e que eu poderia conseguir algum apoio lá. O peão também se chama Marcelo e ele e sua esposa (Nega) me receberam muito bem e também me deram abrigo para a noite. Pude lanchar e jantar com eles, tomar um belo banho e dormir um sono muito revigorante. A ideia inicial, sem saber desse apoio lá tão próximo, era decolar e pousar no vilarejo abaixo e no dia seguinte subir a pé para a rampa.
Dia 9 - 26.03.2019

Bom, acordei, tomei um belo café da manhã com o Marcelo e a Nega, agradeci demais a solidariedade de ambos e parti para a rampa. A condição estava se consolidando muito cedo. Desde as 9h já era possível decolar e botar na base, mas sei bem que esse primeiro ciclo não dura muito em nossa região. Então, era segurar os cavalos e aguardar o início de um ciclo mais duradouro.
Por mais que eu quisesse me segurar na rampa, eu estava jogando com duas variáveis: sair num ciclo bonito e curto cedo demais ou esperar mais e o vento virar na rampa - que era o esperado para alguma hora do início da tarde pela previsão.

Avistei um belo morrote com acesso não muito complicado (apesar de um capim muito alto na primeira metade da subida). Ele tinha uma face perfeita para decolagem E e até NE. Então, acelerei o passo e subi na esperança de conseguir decolar o mais rápido possível.
Cheguei ao topo do morrote por volta das 14h e infelizmente o vento estava uma bagunça só, ainda mais se tratando de uma área de vales em meio a maciços de pedra. Só consegui decolar por volta das 15h40 e com o tempo já completamente sem energia. Consegui pegar uma termal bem fraquinha, ganhei o morrote e pensei que seria possível começar a rastrear acima dos morrotes e achar um fluxo para o alto. Mas não deu. Entrou um vento sul da parte alta para dentro do vale, entrei num rotor pauleira de um maciço de pedra e por sorte ainda consegui levar o parapente até uma boa área de pouso.



Sai para lanchar rapidamente, voltei para o hotel e verifiquei novamente a previsão do tempo. Horrível... até o PWC estava com problemas e teve alguns dias cancelados. Eu fui dormir basicamente à espera de um milagre para o dia seguinte e os próximos.
Dia 10 - 27.03.2019


Bom, só que ai a solidariedade, dessa vez temperada pela camaradagem, mais uma vez se fez presente nessa aventura. Um grande amigo do passado do voo em Pancas passou por lá para pegar seu carro que estava lavando e, sem pensar duas vezes, me levou até o ponto de origem do deslocamento. Fora a enorme ajuda prática, foi muito bom rever um bom amigo que ainda me encheu de motivação pela sua própria trajetória no esporte de corridas de longa distância. Valeu Cariocaaaaa!!!
Cheguei ao ponto de reinício e comecei o décimo dia do TEF-ES 2019. Tudo estava mais uma vez jogando contra. 10 dias é o prazo que eu sempre planejei gastar para fazer toda a travessia e, dessa vez, eu não estava nem na metade do caminho.
Na foto abaixo vocês podem ver o céu encoberto e o vento SW vento vinha canalizado de W para descer o vale. Mesmo se eu estivesse já em Pancas e pudesse subir a rampa para voar, provavelmente não conseguiria decolar e, se decolasse, não teria muita expectativa de evolução, ainda mais por ser uma região muito montanhosa onde você só evolui conseguindo pular de vale em vale ou não sai para lugar nenhum.
Após algumas horas de caminhada, a mente já havia sido vencida. O corpo estava agora sustentando apenas uma estrutura e não mais um projeto. Não fazia sentido evoluir mais sabendo que tudo o que eu faria seria desgastar o corpo sem uma expectativa positiva de bons dias de voo. A previsão climática me dava muitas chances de evoluir somente se fosse caminhando e isso meus pés não iriam suportar mais.
A cada passo, a mente apenas lidava com a questão do fracasso, da missão não cumprida pela segunda vez e pela boba ideia de como lidar com isso publicamente. E o corpo seguia adiante sem mais nenhum sentido de valor.
Mais alguma caminhada e cheguei a um pequeno aglomerado de casas onde havia um bar. Tomei uma coca muito gelada e decidi subir um morro para tentar alguma coisa. Hoje olhe e penso... não fazia sentido nenhum subir aquele morro. Eu decolaria e iria para lugar nenhum. Mesmo assim subi.
Bom, não era o que eu esperava 10 dias atrás, quando dei os primeiros passos do TEF-ES 2019. Eu não entro num projeto para não concluir e muito menos para perder tão feio. Mas, cada ser humano tira de suas vivências a experiência que sua inteligência emocional e maturidade permitem. No início, e confesso que esse início durou alguns dias, me senti derrotado. Demorou um pouco para, além das palavras fortes, meu espírito depurar todo o processo e entender que eu não fui derrotado. Precisei de alguns dias para entender o quão vencedor eu era.
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GRAVAÇÃO DO VÍDEO OFICIAL DE DESISTÊNCIA |
Começa amanhã, 18/03/2019, aproximadamente às 5h da manhã:
ESTÁ CONFIRMADO! VAI COMEÇAR!
FIQUEM LIGADOS!
Finalizei 2017 com fortes treinos de hike nas montanhas da região entre Alfredo Chaves e Vargem Alta e comecei 2018 já com mais treinos, desta vez nas montanhas da região dos pontões capixabas, em Pancas. Após a lesão no cotovelo esquerdo, perdi muito condicionamento e ganhei algum peso e estou me esforçando para recuperar o preparo perdido. Vamos que vamos!!!
Tenho buscado treinar bastante no ES e vou tentar levar meus limites mais além. Moro num estado que é espetacular para a prática do Trekking and Fly (viajar caminhando e voando), para o Hike and Fly (subir para pontos de decolagem andando e voar local ou XC) e também para o Bivouac (decolar de uma montanha, voar e pousar noutra montanha, passar a noite acampado e no outro dia voar novamente daquele ponto de pouso e assim sucessivamente).
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É claro que a prática de decolagens de montanhas não experimentadas previamente para o voo livre envolve certos riscos e exige uma grande experiência tanto na pilotagem de sua vela como também na análise meteorológica e uma boa capacidade de análise do comportamento mecânico do vento na rampa, na área de voo e nas possíveis áreas de pouso. Fica aqui o alerta: NÃO SE ARRISQUE SEM OS CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS.

Trekking & Fly ES 2016
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A paixão se instaurou em minhas veias e o Trekking & Fly hoje é, juntamente com o XC, minha mais plena forma de manifestação do voo livre e suas possibilidades. Buscar os limites? Superar os limites! 2016 vem ai e juntamente com ele vem mais uma expedição Trekking & Fly ES. Em breve terei as datas para divulgação de detalhes e algumas novidades.
A aventura Trekking & Fly ES 2015 está compartilhada com todo rastreamento e fotos pelo roteiro no portal SPOT Adventure. Acompanhem:
www.findmespot.com/spotadventures/index.php/view_adventure?tripid=336427 Entrevista a ABP
[ABP] COMO, QUANDO E POR QUÊ SURGIU A IDEIA?
[CB] Sempre fui um atleta multidisciplinar. Pedalava, nadava, fazia atletistmo, jogava futebol, andava de skate e praticava artes marciais... tudo ao mesmo tempo. Pobres pais... sofreram muito para me domar e o segredo era me colocar para gastar energia. Ano passado, em viagem ao Chile, escalei o vulcão Villarica em Pucon e pronto, click, o botão foi ativado. Ao final de outubro de 2014 a idéia já estava plantada e os planos começaram. O objetivo era fazer algo inédito e de proporções respeitáveis. Algo que abrisse também o leque para a prática do parapente. A inspiração maior foi o X-Alps, sem dúvida.
[ABP] COMO FOI O PLANEJAMENTO?
[CB] Tudo foi respaldado pela dimensão que eu queria para o desafio. Eu precisava de uma rota de respeito e que ao mesmo tempo se delimitasse como um todo: Nada melhor do que atravessar um estado inteiro. No ES eu tinha tudo que eu precisava. A rota desceria de Norte para Sul, passando por rampas oficiais, e os ventos tradicionalmente tocam de NE para SE na região. Era o bastante para lidar com a meteorologia e o trajeto em voo ou em solo.
A rota trazia dois grandes desafios:
1o - Começava com 100km de trekking até a primeira rampa;
2o - Da penúltima rampa para a última o trekking também seria obrigatório;
ESPETÁCULO!!!! A rota, então, era perfeita. Não adiantaria ser especialista no voo XC. O preparo físico seria parte obrigatória do início ao fim. Essa era a essência do projeto.
[ABP] COMO FOI O PREPARO FÍSICO E PSICOLÓGICO?
[CB] Com o tempo livre que tenho, pratico sempre algum esporte, hoje mais forte o ciclismo MTB. Mas remo, faço longboard, corro, pedalo, nado... estou sempre em movimento. Um problema era o ganho de peso que tive desde o início do ano passado após uma lesão no tendão patelar esquerdo. Precisava acelerar a perda de peso. Então, a partir de novembro do ano passado intensifiquei os treinos com foco em mais resistência e também ajustei a alimentação para emagrecer mais rápido. Minha parte psicológica é como uma rocha para este tipo de cenário. Sou péssimo na paciência e contemporização, mas pular para cima de qualquer desafio e ir além dos limites... sai da frente que meu trator está passando. Neste tipo de desafio o quesito determinante é a sua capacidade de ir além... pode acreditar... todos os dias você se verá frente a frente com a tentação de parar no meio do caminho. A alternativa de seguir, apesar de todo o cansaço, do horário e das dores no corpo sempre parecerá dura demais.
[ABP] QUAL FOI A MAIOR DIFICULDADE DURANTE O DESAFIO?
[CB] Por incrível que pareça, graças a Deus e a um bom planejamento, não houve qualquer situação crítica ou incidentes. Os pontos de atenção foram: o preparo físico; a habilidade na decolagem em rampas restritas; hidratação constante; relacionamento e comunicação com o resgate; equipamentos e vestuário adequados; veículo 100% operante e verba suficiente com sobra.
O único perrengue, se é que posso chamar disto, foi na subida à rampa de Pancas. Recebi uma dica "quente" para economizar uns 8km dos 18km do acesso oficial. A dica "quente" virou uma roubada e finalizei com uma mega "recaminhada" e um total de 20km para chegar à rampa.
Um grande desafio físico e psicológico foi encerrar o 8o dia com uma caminhada de 40km, chegar ao hotel de Baixo Guandu umas 23h, jantar, preparar e publicar material de divulgação, dormir depois da meia noite, acordar às 6h e às 7h inicar 25km de caminhada até a rampa do Monjolo. Os últimos 2km foram os mais duros e desgastantes... foi muito muito muito sofrido dar cada passo.
[ABP] PENSOU EM DESISTIR EM ALGUM MOMENTO?
[CB] NÃO! Infelizmente o projeto foi abortado apenas por questões de prazo.
[ABP] VOAR OU CAMINHAR? COMO ERA DECIDIDO?
[CB] Neste projeto a questão era simples, afinal tudo foi definido desde a concepção do projeto. Eu só voaria em rampas oficiais. Não iria subir num morro qualquer e tentar salvar kms de caminhada. Não era um bivouac... era um Trekking & Fly.
Eu caminharia os primeiros 100km até a primeira rampa e depois caminharia sempre que necessário após cada pouso para chegar na próxima cidade destino de cada dia.
[ABP] O QUE VOCÊ APRENDEU COM ESSA AVENTURA?
[CB] Que o parapente ainda é muito pouco explorado em suas possibilidades aqui no Brasil. Que o ES é um estado com uma beleza natural inimaginável em relação ao relevo com formações rochosas espetaculares e únicas. Que o limite só é conhecido por quem desiste. Que eu descobri uma nova paixão!!!
[ABP] QUAL O SEU PRÓXIMO DESAFIO?
[CB] 2 no forno. Ainda segredo!!!
[ABP] QUAIS CONSELHOS VOCÊ TEM PARA QUE PRETENDE FAZER ALGO PARECIDO COM O TREKKING & FLY?
[CB] Pesquise e entenda o que é. Prepare-se adequadamente física e psicologicamente. Tenha um bom orçamento. Tenha equipamentos adequados. Planeje bem a rota e a abordagem de cada trajeto. Tenha um bom motorista de apoio. Valorize os detalhes ao extremo.
Dicas para o T&F - Parte 1
Olá amigos, vou falar um pouco, por etapas, dos preparativos para se encarar em segurança e com diversão um bom trekking & fly.
1o - Entendimento do que é um Trekking & Fly
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Eu estou fazendo questão de separar o T&F do Hike and Fly pelo fato de o Hike and Fly não envolver obrigatoriamente uma viagem entre o ponto A e o ponto B em si. Um exemplo de Hike and Fly: Sair de casa, no centro de Valadares, andando com todo o equipamento e suprimentos nas costas, subir a Ibituruna e voar. Pronto! Você pode pousar onde quiser e voltar para casa de carro, a pé, de ônibus... você praticou o Hike and Fly.
Um exemplo de Trekking & Fly (T&F): Sair de casa, no centro de Valadares, andando com todo o equipamento e suprimentos nas costas, com o objetivo de ir até Ipatinga, subir a Ibituruna, decolar e voar para Ipatinga e concluir a viagem em voo e/ou andando após o pouso e no outro dia caminhar para a rampa de Santana do Paraíso, decolar rumo a Valadares e concluir a viagem em voo e/ou andando.
Basicamente, descrevo o Hike and Fly como: Andar para voar e o T&F como: Andar, voar e andar.
2o - Os equipamentos necessários
A lista de equipamentos se divide em: Para Voar e Para Caminhar. Vamos falar de ambos separadamente.
Para Voar:
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*Equipamentos com pesos muito inferiores, entre 5kg e 6kg, apesar de excelentes para caminhadas, significam sacrifícios de conforto e segurança em voo e durabilidade dos equipamentos.
Para Caminhar:
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Camelbag é imprescindível, se o trekking for mais autônomo. Não abra mão dos bastões de caminhada... nem perca tempo experimentando cobrir grandes distâncias sem eles. Sugiro o uso de manguitos quando usando camisetas de manga curta. Bonés são um acessório obrigatório e devem ser preferencialmente de material sintético, leve e ventilado. Óculos de sol também são de uso obrigatório para quem vai andar o dia todo tanto por conta do sol quanto por conta de poeira e detritos ou insetos que podem prejudicar os olhos. Bandana é super adequada no dia a dia de um trekking. Elementos de sinalização noturna são essenciais num trekking mais sério. Colete reflexivo, luzes sinalizadoras traseiras e lanterna de cabeça devem fazer parte do kit padrão.
Se o T&F for feito de maneira mais autônoma, inclua também em seu kit barraca e/ou saco de dormir e foodbag.
* De acordo com o grau de profissionalismo ou desejo do praticante, o uso de Spot e rádio comunicador se faz muito interessante.
No próximo post, continuamos!!!
Vídeos do Projeto
10o Dia: Encerramento/Abortagem
Então, a previsão climática de chuvas se confirmou, tempo ficou muito ruim na região da reta final do Trekking & Fly ES e não havia mais forma de conclusão em tempo hábil. O projeto foi encerrado hoje tendo sido coberta a distância de 300km em rota, dos 580km previstos.
O problema não seria a chuva em si e sim o atraso que a mesma causaria justo com o prazo principal estourado.
Em breve vou fazer um relato completo de toda a aventura.
Obrigado a todos que acompanharam e torceram!!!
10o Dia: Baixo Guandu a Afonso Cláudio
Bom dia amigos (boa tarde, boa noite... para os fora do Brasil)!!!
Estou escrevendo aqui para informar que, se não conseguir voar para Afonso Cláudio hoje, saindo aqui de Baixo Guandu, vou ter que aceitar a falha do projeto Trekking & Fly ES 2015. A caminhada para a Rampa de Afonso Cláudio é de mais de 100km... consigo andar tranquilamente até a divisa com o Rio de Janeiro, mas minha janela de tempo estava limitada até hoje e com extensão até sexta por margem de erro. Sem o voo hoje, nem a margem de erro de sexta resolveria o problema de tempo.
Tentei fazer o melhor. Cometi alguns erros de decisão, mas acho que foi na tentativa de acertar e seguir a essência do projeto, que era andar até rampas oficiais e voar para novas rampas oficiais, cubrindo todo o trajeto voando ou voando e andando.
O maior imprevisto possível aconteceu em todas as rampas:
Subi para rampa de Ecoporanga e não dava para fazer XC no 1o dia; Subi para a rampa de Vargem Alegre e não dava para fazer XC no 1o dia; Subi para a rampa de Pancas e o vento estava de cauda no 1o dia; Subi para a rampa de Baixo Guandu ontem e o vento também estava de cauda (laterocaudal... kkkk)... ou seja, perdi 4 dias dos 10 previstos parado na mesma cidade já tendo subido a rampa sem poder evoluir para a próxima cidade.
O complicador é que, no dia em que vou voar, a parte da manhã eu perco andando para a rampa ou indo para a rampa já no horário para decolar e tentar sair para o XC. Quando chego à rampa e não dá para fazer XC ou decolar, eu já perdi a parte da manhã, aproximadamente 5h ativas de caminhada.
Bem, estou tranquilo... insatisfeito, mas tranquilo. Vou para a rampa do Monjolo agora na esperança de poder evoluir o projeto um pouco mais ou até o fim, mas já deixo vocês com esta informação prévia.
Mais uma vez obrigado pela força e por acompanharem esta aventura inédita!!!
9o Dia: Subida à Rampa do Monjolo
Tive uma janela extremamente curta de descanso de 2a para esta 3a... apenas 7h após caminhar 40km
já estava novamente com os pés na estrada. Tinha que terminar de chegar a Baixo Guandu (1km), atravessar a cidade e pegar a estrada até o acesso e subir a rampa do Monjolo: 25km. Meus amigos... como hoje foi sofrido. Temperatura alta e humidade também elevada, sinais clássicos de entrada de pré-frontal. Bom sinal para o voo, péssimo sinal para a caminhada, que seria muito mais desgastante. Foi um dia muito sofrido... muito sofrido. Os últimos 4km de ascensão à rampa do Monjolo foram um drama. Foi um passo após o outro... uma luta contra vários incomodos: calor, poeira, desgaste, pés, costas, suor... Incrível como o foco numa missão nos faz superar as adversidades. Em vários momentos me vi relembrando passagens de meu amigo Rodrigo Raineri em suas expedição ao Everest. Cada situação simplesmente ficava minúscula, meus problemas tomavam proporções inexpressivas e eu me via simplesmente com o caminho desobstruído. Valeu Rodrigo, hoje você subiu o Monjolo comigo em pensamento. Eu tinha a expectativa de chegar à rampa até as 12h, mas não foi possível. Acabei chegando após as 13h e a janela de voo se tornara curta para cobrir os 67km entre Monjolo e a rampa da Fazenda Guandu em Afonso Cláudio. Para complicar mais um pouco o vento estava na tradicional situação de entrar caudal no início da tarde com alguns ciclos entrando na rampa... o que acabou provocando vários dusts magníficos na rampa. Acabei matando um pouco de tempo descansando e trocando conversa com meu grande amigo Aquino, anfitrião sempre solícito aqui em BG. Depois de algum tempo acabei decolando e fazendo um voo local. Sai numa boa e já fui ganhando a rampa e as montanhas. Fui até a base e pude já observar a rota que tenho que voar para Afonso Cláudio. Agora é descansar e subir cedo amanhã para tentar aproveitar ao máximo o que a condição oferecer. Seguem algumas fotos: Continuem acompanhando!!!
8o Dia: Pancas a Baixo Guandu
O dia mais esperado do projeto para mim era o de decolar de Pancas e voar para Baixo Guandu. O visual é muito bacana na rota e o grande tempero seria a travessia do rio doce na chegada a BG.
Infelizmente foi um dia de decepção... decolei 3 vezes. A condição na rampa estava show... subindo tudo e forte... base. Mas, ao tirar na rota, condição espaçada e bem fraca mesmo em pontos muito certeiros... não entendi nada.
Bom, quando o limite do horário chegou, o jeito foi juntar o apoio de solo e meter o pé na estrada. Foram 7h30 de caminhada até a entrada de Baixo Guandu, 40km de muito chão e poeira.
Fomos direto para o hotel Barbosa, que já é restaurante e a noite terminou em pizza para armazenar energia para o próximo dia, que teria uma mega caminhada novamente com final na ascenção para a rampa do Monjolo.Seguem algumas fotos: Continuem acompanhando!!!
7o Dia: Subida à Rampa de Pancas
As expectativas parar o dia de hoje eram altíssimas. O dia amanheceu bem limpo, a previsão era de vento nordeste. Ganhei uma dica que encurtaria a subida para rampa em uns 30%... Deu tudo errado!!!
Bom, a dica deu o maior furo e resultou numa perda de 1h de caminhada, justo 1h de ascensão pesada com direito a escalada num cafezal. O trajeto que fiz acabou 1,5km maior do que o tradicional pelo asfalto. Foram 4h45 de subida no total. O pior é que alterei meu horário de início da caminhada pensando em não ficar muito tempo extra de molho na rampa e isto resultou numa chegada mais tarde à rampa. Com o prejuízo já nas pernas, fui subindo num ritimo mais puxado. A previsão de chegar à rampa às 11h virou 12h. Fui observando se alguém entrava em voo. Ninguém voando... ninguém voando. Quando estou na reta final para a rampa começo a passar pela turma, que havia subido de carro, descendo sem voar. Vento de cauda na rampa... que dureza. Bem, apesar de Pancas ter uma decolagem sul, esta não é das melhores e nem é muito recomendada, ainda mais pelo pouco uso e conservação. No meu caso, não fazia sentido decolar, uma vez que a rota seria impraticável com o vento que ficou definitivo. Situação definida, descansei um pouco na rampa e desci com o Joaqson (meu resgate) para almoçar no Degas e descansar a tarde na pousada. Amanhã subo cedo de carro e espero ter uma condição boa para cobrir a rota até a rampa de Baixo Guandu (Monjolo). Alguns momentos do dia: Continuem acompanhando!!!
6o Dia: Vargem Alegre a Pancas
Bem, 2o dia de voo e consegui chegar até a cidade prevista. Infelizmente não deu para pousar na rampa de Pancas, fiquei aos pés da montanha da rampa, mas, de qualquer forma, foi um dia espetacular por conta da rota rara e do visual completamente alucinante.
Pelo aprendizado de ontem e sabendo da época em que estamos do ano, sabia que precisava decolar cedo. Acabei fazendo duas decolagens. Na 1a, umas 10h30, meu acelerador ficou preso por dentro do ventral e decolei com o lado direito uns 40% acelerado. Pousei na rampa, resolvi o problema e esperei um novo ciclo. Nova decolagem pouco antes das 11h. Vargem Alegre é um lugar com saida muito previsível e fácil. Decolei, ganhei e já fui evoluindo na rota. O visual dos maciços é simplesmente incrível e voar neste tipo de relevo é meio que previsível. Bem mais fácil que voar no flat. Só que o voo não rende muito como no flat. Apesar de pegar boas térmicas pulando pelos maciços, o que mais me deixou em êxtase neste voo foi a travessia final para entrar na cidade de Pancas. Eu tinha a opção de pousar antes da cidade, numa área plana mais ampla, ou iria passar por um corredor de maciços e pousar em encostas... sim, colei nas pedras, atravessei e pousei numa encosta aos pés da rampa. Foi muito bacana. Seguem algumas fotos do dia: Continuem acompanhando!!!
5o Dia: Subida à rampa de Vargem Alegre
A missão era subir a rampa na parte da manhã e decolar no horário normal para cobrir a rota até Pancas, próximo destino. Infelizmente a condição não ficou muito boa por aqui hoje.
Amanheceu tudo fechado, depois começou a pipocar com uma aparência perfeita... cheguei a gravar um vídeo comemorando que ia ter um mega dia de voo. Só que, quando estava já na parte mais de subida para a rampa, a condição começou a se mostrar realmente instável. A norte e nordeste tudo fechado com formações por baixo e na rota para Pancas, a sul, mega desenvolvimentos verticais. Já dei aquela desanimada básica. Teria uma condição na rampa show para decolar e subir, mas não teria futuro na rota. Continuei subindo com um bom rítimo os km finais dos 16km de acesso e ao chegar à rampa a condição ainda deu uma piorada... sombreou tudo... o vento continuou bombando bem na rampa, mas a condição foi morrendo... morrendo... confesso que só decolei para não descer de carro. Bom, as opções que sobraram era tirar o dia para descanso ou seguir andando até Pancas. De qualquer forma perderia um dia. Pensando nos riscos de andar até Pancas e depois perder o dia por lá também, resolvi investir mais um dia aqui para tentar fazer a perna para Pancas voando. Bem, amanhã, voando e/ou andando, fecho o dia em Pancas para continuar evoluindo na travessia do estado. Alguns momentos: Continuem acompanhando!!!
4o Dia: Voo Ecoporanga para Barra S. Francisco
Finalmente, voei de verdade. A condição não estava tão boa quanto no dia anterior, mas foi possível evoluir um pouco na rota. A decolagem foi boa, mas sai afundando tudo até a esquerda da cidade, onde peguei uma boa do chão até 400m acima da rampa.
Céu azul, formações ao longe para nordeste e norte... mas rota toda azul. Como não era o padrão, era sinal de condição local fraca. Fui cauteloso e busquei parar em tudo que subia, ao contrário do que faço normalmente, quando busco evoluir na rota e só paro por obrigação.
Cheguei a colocar 1.200m sobre a rampa, 2.300asl, mas as transições não rendiam. O vento estava bem favorável à rota, mas fraco. Por conta do relevo e do vento fraco, as transições realmente estavam sofríveis.
Busquei o tempo todo curtir o visual... algo alucinante... completamente diferente do tradicional num voo XC pelo Brasil. As formações rochosas da região são algo que, por si só, valeram cada passo dado após o voo.
Voei pouco mais de 20km e andei mais de 35km até Barra de São Francisco, onde cheguei às 22h, no ponto já de saida para a rampa de Vargem Alegre.
O objetivo era chegar à rampa de Vargem Alegre neste dia, mas o principal era decolar no 5o dia. Assim sendo, optei por conseguir comer e dormir a tempo de ter umas 6h de sono para acordar, andar e chegar à rampa na parte da manhã do dia seguinte.
As imagens do voo falam por si. Curtam:
A caminhada pós voo até Barra do São Francisco foi tranquila, apesar de muito longa para somente a parte da tarde, afinal comecei a andar por volta das 15h. Consegui imprimir uma boa média e sem agravar a condição dos pés ou degradar as costas. No geral foi um dia bem produtivo.
Continuem acompanhando!!! |


Bem, muito tempo esperando (a rampa hoje só decola com vento Leste na cara e o vento estava SE) e por volta das 14h tive uma janela para decolar (a rampa é super restrita: cabe apenas um parapente, o vento não entra rente ao solo e não tem um bom perdão). Puxei a vela, senti uma boa pressão rápido (graças aos meros 4,5kg do Sky Argos) e parti para a borda da rampa.... quando o resgate me desejou um bom voo... mas devido à tensão, achei que ele tinha me alertado para algo... abortei a decolagem. A culpa foi minha, pois esqueci de avisar a ele que, em casos de rampas assim restritas e com alto nível de tensão, não se fala nada, exceto que seja para alertar o piloto para abortar. Pois são centésimos de segundo para se tomar a decisão de se jogar ou abortar.
Fiquei mais um tempo de molho... desci a rampa até o carro e subi o carro até a decolagem... relaxei... e quando retornei para já dobrar a vela, pois estava muito tarde, o vento voltou a entrar alinhado. Acabei aproveitando para experimentar a rampa, mas já eram mais de 15h. Decolei bem e ainda pude experimentar alguns pontos e enroscar em algumas térmicas me preparando para amanhã.
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Sim... tem que puxar, alinhar e correr ali naquele espacinho |
Bem, o saldo final está positivo por enquanto. A previsão era decolar de Ecoporanga para Vargem Alegre (Barra de São Francisco) amanhã mesmo. Então, amanhã subo cedo e vou fazer o máximo para fazer a rota até a rampa de Vargem Alegre. O potencial de Ecoporanga é fantástico. A mecânica da área da rampa (entorno) é muito favorável para coleta de correntes e bons desprendimentos. Gostei do que vi e experimentei.
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Visual da área coletora... espetáculo!!! |
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Visual da rampa Pedra do Fujiama |
Continuem Acompanhando!!!

Não foi fácil. Não foi nada fácil. Mesmo treinando desde Dezembro especificamente para este projeto, sei que algumas coisas só se experimenta na prática. A estratégia foi fazer o início da manhã num rítimo mais leve e segunda metada mais puxado. Na parte da tarde fiz a mesma coisa e, para superar todas as limitações físicas que foram aparecendo, baixei o rítimo e só me foquei em dar passos... passos... passos. Funcionou!

O mais complicado no dia de ontem, apesar de já sabido, foi encarar aproximadamente 30% de todo o percurso em ascensão. Sim, subida subida... subida subida subida... +subida +subida +subida... e mais subida!!! Na parte da tarde, todo o corpo pedia pausa, pedia descanso, pedia para parar... mas, quando a mente está no controle, a coisa flui.
Foi uma sensação maravilhosa chegar a Ecoporanga. O prazer da conquista... o sentimento de superação... a satisfação por dar sempre um passo a mais do que parecia possível a cada momento. Foram 16h na estrada. Quase 12h em movimento (sim... quase 12h andando). O treino, a concentração, o foco, a determinação... tudo junto me levou ao cumprimento da missão.
Curtam alguns momentos ai:
Continuem acompanhando!!!
Finalmente, agora está valendo. Eu estava super ansioso para iniciar este projeto... começou!!!
Saimos às 4h40 do hotel e chegamos à divisa do ES com MG por volta das 5h20... sim um pouco atrasados. Mas foi bom, estava muito escuro e a rodovia não tem acostamento, mesmo com as luzes de sinalização frontal e na mochila, achei que o risco era alto para caminhar ainda escuro. Tanto que a partir de amanhã vou caminhar a partir das 5h40, quando o sol já nasce e ilumina tudo por aqui.
A caminhada começou com o nascer do sol e toquei até a cidade de Mucurici-ES, 30km. Na parte do asfalto, 12km, foi tranquilo, me senti muito bem o tempo todo e, mesmo sem acostamento na rodovia, andei pela contramão (como recomendado aos pedestres) e fui muito respeitado pelos motoristas.

O resgate me encontrou no ponto marcado e o descanso foi muito produtivo no hotel. Pude relaxar as costas e a musculatura das pernas e me preparar para mais 3h de caminhada antes do final do dia.



Me permitam compartilhar este pequeno sofrimento com vocês:
Estou fazendo recuperação nos pés... acredito que posso andar um pouco mais lento, mas o importante é avançar. Tenho 2 dias para cobrir 60km e acredito que maneirando é possível evoluir e ainda recuperar ativamente os pés.
Continuem acompanhando!!!
Vai Começar!!!

Muitas aventuras, muita caminhada, muito voo e muitas surpresas nos aguardam nestes próximos 10 dias.
Neste dia de deslocamento para o norte do estado, passamos na rampa de Ecoporanga, que é a única que eu desconhecia totalmente. A rampa não é das melhores e não está em uso atualmente, mas tem uma área limpa que torna possível uma decolagem segura com algum vento entrando alinhado.

De qualquer forma, estou otimista em relação à rampa devido à condição aqui na região que está muito boa. O negócio é chegar, avaliar e fazer o melhor possível dentro do objetivo do projeto.
Trekking & Fly ES 2015
B r i e f i n g d o P r o j e t o
Objetivo
Travessia de todo o Estado do Espírito Santo, de Norte a Sul, utilizando como meios de locomoção somente a caminhada e o voo livre em parapente.
Distância
580km – Trajeto
Roteiro
DIA 1 - 13.04.2015 a 15.04.2015 (máximo 3 dias)
Largada: Divisa Norte ES x MG - Rodovia ES130
Destino: Ecoporanga-ES
DIA 4 – 16.04.2015
Largada: Ecoporanga-ES
Destino: Vargem Alegre, Barra do São Francisco-ES
DIA 5 – 17.04.2015
Largada: Vargem Alegre, Barra do São Francisco-ES
Destino: Pancas-ES
DIA 6 – 18.04.2015
Largada: Pancas-ES
Destino: Baixo Guandu-ES
DIA 7 – 19.04.2015
Largada: Baixo Guandu-ES
Destino: Afonso Cláudio-ES
DIA 8 – 20.04.2015 a 21.04.2015
Largada: Afonso Cláudio-ES
Destino: Cachoeiro do Itapemirim-ES
DIA 10 – 22.04.2015
Largada: Cachoeiro do Itapemirim-ES
Destino: Divisa Sul ES x RJ - Rodovia BR101
Detalhes Operacionais
- Um carro de apoio fará o deslocamento do atleta de Vila Velha ao ponto de partida no domingo à tarde para pernoite na cidade de Montanha-ES;
- O atleta se deslocará de maneira autônoma por todo o trajeto, podendo apenas ser removido* pelo veículo de apoio nos casos previstos:
i. urgências ou emergências;
ii. pernoite em locais adequados;
iii. riscos claros à permanência em local remoto;
iv. reparos ou manutenções de equipamentos;
* a remoção envolve a retirada do atleta de um ponto e posterior retorno do mesmo ao ponto exato da retirada.
- Todo o trajeto será registrado em tempo real via rastreador SPOT e também em unidade GPS para posterior download e possíveis averiguações de comprovação;
- A partida será às 5h da manhã do dia 13.04.2015 na rodovia ES130 divisa com MG;
- O veículo de apoio transportará alimentos e bebidas complementares para o atleta;
- O início de deslocamento, quando em caminhada, se dará sempre às 5h da manhã;
- Quando o piloto for removido da rampa de voo, o mesmo será retornado à rampa em horário compatível com a possibilidade de decolagem e realização do voo a distância para o próximo destino;
- Em caso de insucesso na tentativa de realização do voo a distância para o próximo destino, o piloto pode regressar para a rampa de decolagem no veículo de apoio, uma vez que não há qualquer benefício no cumprimento do trajeto, ou optar por prosseguir caminhando para o próximo destino;
boa tarde meu amigo gostei da performance lugares bonitos.
ResponderExcluireu gostaria de saber se vc conhece algum representantes da LittLe Cloud Spiruline GT2
no brasil.
eu achei as velas muito interessante gostaria de ver preço e forma de entrega
obrigado um bom fim de semana
boms voos