Pois então pessoal, me perdoem a demora em atualizar o blog... mas aqui vai um breve relato de como foram os dias de treino e voo na Espanha.
1a PARTE: PIEDRAHITA
Cheguei a Madri e o plano, como a condição não estava das melhores nos pirineus, era ir primeiro para Piedrahita, na região central da Espanha. Cheguei meio que com o cronograma ultra ajustado e um pequeno imprevisto no aeroporto me tomou 30min e o efeito em cascata me levou a perder o ônibus para Piedrahita por exatos 5min. Bem, ganhei meio dia de turista em Madri e aproveitei de maneira cultural e gastronômica. Valeu bem a pena!!!

A FlyPiedrahita é comandada por Steve Ham e sua esposa, Puri Almansa, ambos voadores muito experientes pelo mundo e extremamente profissionais com as atividades do turismo de voo.
A atenção, cuidados, logística e integração do grupo é uma coisa extremamente profissional e, apesar de ser voltado mais para pilotos iniciantes/intermediários em programa turístico de voo, não deixou de me ser muito agradável.
Uma das coisas que mais gosto no mundo é da troca cultural de qualquer tipo, natureza ou origem. Na FlyPiedrahita pude exercitar isto muito com os grupos que conheci durante minha estadia no hostal. Um casal da Lapônia (Lapland), um casal francês, 2 pilotos ingleses e 1 americano que mora em Dubai, fora alguns pilotos de Madri que apareceram por lá.
O programa da FlyPiedrahita é totalmente voltado para o voo. São 7 dias, 6 de voo, que inclui a opção de 3 voos por dia - com opções alternativas de rampas quando necessário. Todos os dias se iniciam com o briefing da condição, aerologia e rota de xc (voo das 13h) feito por Steve no hostal. O programa ainda inclui alguns jantares na casa de Steve e Puri regados a bom vinho, cerveja e segue o tradicional roteiro: entrada, prato principal e sobremesa. O idioma oficial do programa é o inglês, apesar de Steve e Puri serem fluentes em espanhol e o resgate ser nativo de Piedrahita.

A rampa de Piedrahita é um luxo. Acesso via asfalto até a entrada da rampa, decolagem toda forrada com grama sintética, área muito ampla e segura para decolagens sem vento ou com vento forte. A parte de trás da rampa é um platô, então não há grandes riscos no caso de se voar para trás.
Voar para a parte de trás da rampa te leva a uma grande cadeia de montanhas, el Sierra de Gredos, que faz parte da cordilheira central espanhola. Voar para a parte da frente te leva a uma área flat fantástica e que, por limitação do plano do grupo, não pude experimentar nenhum dos dias. Os voos basicamente se limitam a local ou a XC para a cidade de Ávila.
Foram 5 dias muito divertidos e com bons voos. Não pude praticar meu trekking & fly mas pude começar uma boa aclimatação à condição de voo. Tradicionalmente a condição na Espanha, principalmente em Piedrahita, é muito forte e com ventos também intensos, mas como estávamos no final do verão todos os dias foram muito bons e sem grandes emoções. O grande feito nestes dias foi ter conseguido surfar a convergência que se forma quase todos os dias na região. Uma experiência muito bacana e singular.

2a PARTE : CASTEJON DE SOS

Tudo certo quanto a hospedagem e informações, foi só me aprontar e em menos de 30min em Castejon já estava fazendo meu hike&fly.
A região dos pirineus é uma coisa simplesmente maravilhosa. Um visual, uma energia, um magnetismo... algo muito além dos padrões comuns. Montanhas, vales, maciços, cordilheiras, rios, matas, cachoeiras, vilarejos, cultura... um composto que inspira a prática de esportes de montanha em tempo integral.
Pude praticar caminhada curta com alta intensidade por estradas e single tracks, pude praticar caminhadas longas por rodovias e estradas, pude visitar vilarejos medievais, respirar esporte e cultura exatamente como o previsto.
Como o objetivo era estritamente praticar caminhada, conhecer melhor a aerologia dos pirineus e também treinar decolagens e pousos em montanha, posso dizer que meus dias nos pirineus foram simplesmente perfeitos. Pude explorar bem o que me propus a fazer e pude também constatar a grande vantagem dos equipamentos adequados.
O que mais me surpreendeu, mesmo já indo para 2 anos de voo com meu SKY Argos (EN-C), foi o quanto uma vela leve e bem projetada facilita este tipo de prática do paragliding. Num simples hike&fly, o piloto apenas sobe a rampa desejada e vai voar com toda a condição já avaliada. Num projeto grande de Trekking & Fly, você decola de onde pode, pousa onde precisa e vai novamente decolar de onde conseguir para seguir o trajeto rumo ao objetivo. Num de meus pousos por exemplo, na rampa de Pedras Blancas, simplesmente não dava para decolar da rampa oficial por conta da direção e intensidade do vento, que formava um rotor com vento de cauda na área de decolagem. Precisei achar um outro local, avaliar a situação e decolar em segurança. O Argos fez toda a operação parecer bastante simples. Um recurso a mais quando se está num projeto tão autônomo como uma corrida de trekking & fly pelos pirineus.

Meu maior objetivo é muito claro, estar apto a participar de maneira competitiva da corrida x-Pyr que terá sua próxima edição nos pirineus no verão de 2018. Preciso estudar também algumas rotas de voos realizados nos pirineus para entender melhor os pontos de transição e as possibilidade conjuntas de térmicas e vento. Estou um pouco intrigado com a x-Pyr ser executada de Oeste para Leste e ter voado todos os dias em Castejon com vento Sudeste. Inclusive observei que os competidores da edição do x-Pyr deste ano também tiveram problemas com a orientação do vento em algumas etapas.
Bem, de qualquer forma, o melhor caminho para se preparar para qualquer desafio é aceitá-lo e enfrentar a rotina de aprendizado e treinamento que seja necessária para tal.
Foram duas semanas de muito aprendizado e em 2017 estarei novamente nos pirineus afinando um pouco mais meus treinamentos.